segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O poeta


O poeta entrou no bar
enquanto a moça tomava chá em uma confeitaria
que ficava do outro lado da cidade
perto da biblioteca municipal
e da casa do Inácio
que era colecionador de gibis

O poeta pediu duas doses de Jack
que era o seu uísque preferido
enquanto a moça engolia um quindim
tão doce quanto os seus lábios
e o Inácio dormia em um sofá sujo
e rasgado que ficava na garagem da sua casa

O poeta foi para casa e dormiu
sonhou com a moça
a moça foi para os braços do seu namorado
que se chamava Inácio e colecionava gibis
o Inácio que não era poeta
conquistou a moça na marra 

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Seus olhos são poéticos


Você possui a mesma elegância das atrizes dos filmes antigos
e entre todas as pessoas que eu conheci neste dolorido ano
você foi a criatura humana mais poética que surgiu no meu horizonte
cinza escuro meio sujo de desalentos de uma vida soturna
e cheia de vocábulos perdidos ao vento ou esquecidos
dentro de uma caixa desaparecida nas minhas memórias
e estas palavras são para você guardar na sua gaveta
de calcinhas ou meias ou qualquer gaveta que você abra todos os dias
para que se lembre de mim pelo menos por um instante e sorria
ao perceber que fez parte do meu estro poético
porque ao compreender a vibração que havia entre os nossos corpos
resolvi prestar atenção nos detalhes que cercavam
a sua corpulência e dessa forma me vi refletir nos seus olhos
de Capitu e pude sentir a mesma ressaca tão oblíqua
e dissimulada que existia no mundo que havia dentro do cosmos
do seu místico
olhar.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

"aqui jaz um tempo"

Numa roda de amigos
que nos falam até ao amanhecer
sobre moças e inimigos
que conheceram por conhecer
mas que cravaram dois pés
na alma dos desesperados
que choravam gotas de
blues pesados como foices
e machados que cortam
as dores dos acusados
de homicídios qualificados
e também remetem velhas
teorias acerca de outros fatos
que embaralham nossas poesias
como vagabundos e usuários
de drogas iluminadas com
pingos de saudades
das estrelas que reluziam
nos olhos de uma menina
atordoada por pensamentos
de um passado que não há
nem surgirá além das promessas
que foram feitas por esses
que nos contam um pouco
dos seus passos por uma terra
desconhecida que existe
dentro de uma máquina
conhecida por aqui jaz um tempo
onde tudo era alcançado
por meio das palavras ou
tentativas de alguma arte
grandiosa ou simples
mas que fosse arte.